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Grupo de 90 pessoas montaram acampamento na fazenda Madama.
Funai aguarda policiamento para ir até o local e tentar recuperar algo.

Cerca de 30 famílias da etnia Guarany-kaiowá que viviam no acampamento Kurussu Ambá, na fazenda Madama em Coronel Sapucaia, no domingo (31), foram retiradas do local por pessoas ainda não identificadas.
O coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), Elder Ribas, disse ao G1 que todas as casas foram destruídas. Ribas recebeu uma ligação informando de que estava tendo um ataque contra eles por volta do meio-dia de domingo.
A reportagem entrou em contato com o Sindicato Rural de Amambai e com a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
“Os 90 indígenas, entre eles 30 crianças, foram acomodadas em acampamento que fica na fazenda Barra Bonita”, afirmou o coordenador.

O grupo atacado é o mesmo que ocupou a fazenda Madama em junho de 2015. Depois que foram retirados da propriedade, montaram o acampamento. A equipe da Funai aguarda o acompanhamento policial para ir até o local e tentar recuperar o que sobrou.
A Polícia Militar foi para a região do conflito no fim da tarde desta segunda-feira (1º). O Exército deixou a área de conflito em novembro de 2015, dois meses após iniciarem os trabalhos.
Ocupação e morte
O clima ficou tenso na região de Antônio João no fim de agosto, quando cerca de 80 indígenas ocuparam cinco fazendas vizinhas à Aldeia Campestre, às margens da MS-384.
Durante retomada feita por fazendeiros, na semana seguinte, dois grupos entraram em confronto e Vilhalva foi encontrado morto perto de um córrego, dentro de uma das fazendas.
A tensão na região diminuiu a partir do dia 1º de setembro, quando o Exército começou a atuar na região, com barreiras e monitoramento em estradas que dão acesso às áreas em disputa.

De acordo com o tenente-coronel do Exército Marcelo Rocha Lima, comandante da região de Bela Vista, das cinco propriedades ocupadas, as que continuam com indígenas são as fazendas Fronteira, Barra e Cedro. O Exército atua na região com poder de polícia, fazendo vistoria e revistas nas estradas.

Após a chegada do Exército, o G1 sobrevoou a região de helicóptero e foi até a fazenda Fronteira, uma das três propriedades rurais vizinhas à aldeia Campestre. No local, tropas do Exército e da Força Nacional montaram uma base.
Aldeia Campestre fica às margens da MS-384, em
Antônio João (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS)
Posse da terra
De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), a terra indígena Ñande Ru Marangatu, em Antônio João, tem 9.317 hectares e já foi homologada, o que significa que têm limites materializados e georreferenciados, cuja demarcação administrativa foi homologada por decreto Presidencial.

A área é tradicionalmente ocupada pela etnia guarani kaiowá. De acordo com a Funai, as terras indígenas tradicionalmente ocupadas são garantidas pelo artigo 231 da Constituição Federal de 1988, que trata do direito originário dos povos indígenas, cujo processo de demarcação é disciplinado pelo Decreto nº 1775/96.

De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em 1999 o governo federal iniciou os trabalhos de identificação da terra indígena Ñande Ru Marangatu e, em março de 2005, a área foi homologada com extensão de 9.241 hectares. Depois da homologação, comunidades kaiowá e guarani começaram processo de retomada da área, que estava ocupada por fazendas.

Conforme o Cimi, no mesmo ano, o então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim suspendeu, por intermédio de liminar, o decreto de homologação e a comunidade indígena foi retirada do local. Por conta da suspensão, a área indígena não pode ser registrada no Serviço de Patrimônio da União (SPU), que representa a última etapa do processo demarcatório.

Após 10 anos de espera por definição do governo federal, os guarani kaiowá retomaram, em agosto, as terras das fazendas Primavera, Fronteira, Cedro, Bananal e Barra, localizadas dentro da terra indígena Ñande Ru Marangatu, segundo o Cimi.