Jose Raildo de Souza and Jailson de Jesus Mendes carry boxes of cassava root from the field that the Kiriri harvest to make flour and other products sold at nearby schools and farmer markets, at Aldeia Marcação Kiriri, near Ribeira do Pombal, in the state of Bahia, Brazil, on Tuesday, April 12, 2016. They wear the native Kiriri garb in honor of Día do Índio, or Indigenous Day, celebrated on April 19.

José Raildo de Souza e Jailson de Jesus Mendes levam caixas de raiz de mandioca do campo que a colheita de Kiriri para fazer farinha e outros produtos vendidos em escolas vizinhas e mercados de agricultores, na Aldeia Marcação.

O sonho de estudar Medicina se tornará em breve uma realidade para Adriana Pantaleón dos Santos. Ela vem da comunidade indígena dos Kirirí, na Bahia, onde trabalha em uma fábrica de processamento de mandioca. Com o emprego, a jovem de 19 anos consegue guardar dinheiro para começar os estudos na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

A vida da futura universitária não teria sido a mesma sem o apoio que os Kirirí receberam do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e do governo estadual. Ao longo dos últimos oito anos, parcerias entre as autoridades e a agência da ONU ajudaram os indígenas a adaptar sua produção agrícola ao clima da Bahia, para onde a tribo retornou depois do reconhecimento de seus direitos a terra, há mais de 20 anos.

Com investimentos e programas de capacitação, os indígenas aprenderam e implementaram técnicas que os permitiram ampliar a produção de culturas tradicionais. Também obtiveram mais recursos para conseguir processar e vender as safras.

Maria do Carmo Vieira Araujo, 50, Ednalva Maria de Jesus, 31, and Dilma Jesus Panteleon, 40, peel cassava roots together at the cooperative, at Aldeia Marcação Kiriri, near Ribeira do Pombal, in the state of Bahia, Brazil, on Tuesday, April 12, 2016. The program enables women to work, socialize and sell good to support and sustain the tribe. The IFAD-funded Rural Sustainable Development Project in the Semi-arid Region of Bahia (Pro-Semiárido) has been working together with the Kiriri people to allow them to use their traditional knowledge and traditions as a foundation upon which to build their livelihoods.

Maria do Carmo Vieira Araujo, de 50 anos, Ednalva Maria de Jesus, de 31 anos, e Dilma Jesus Panteleon, de 40 anos, cascas de mandioca junto à cooperativa, na Aldeia Marcação Kiriri, perto da Ribeira do Pombal. O programa permite às mulheres trabalhar, socializar e vender o bem para apoiar e sustentar a tribo.

A vida mudou – e continua se transformando – em Marcação

Adriana cresceu no vilarejo de Marcação, a 296 km de Salvador. A comunidade se espalha pelos municípios de Ribeira do Pombal, Banzae, Quijingue e Tucano. Cerca de 2 mil indígenas fazem parte da tribo, que chegou a ocupar no passado 12 mil hectares de terras.

Kiriri man dumps cassava roots into a machine that shreds the roots and turned into flour at the cooperative, at Aldeia Marca‹o Kiriri, near Ribeira do Pombal, in the state of Bahia, Brazil, on Tuesday, April 12, 2016. The IFAD-funded Rural Sustainable Development Project in the Semi-arid Region of Bahia (Pro-Semi‡rido) has been working together with the Kiriri people to allow them to use their traditional knowledge and traditions as a foundation upon which to build their livelihoods.

O Kiriri despeja raízes de mandioca em uma máquina que rasga as raízes e se transforma em farinha na cooperativa, na Aldeia Marca o Kiriri, perto da Ribeira do Pombal, na Bahia.

Na última década, o FIDA financiou os projetos Gente de Valor e o Pró-Semiárido, iniciativas do governo do estado que forneceram equipamentos para a expansão e modernização da produção e processamento de milho e mandioca. Outro componente dos programas era garantir que os indígenas tenham acesso a mercados. Hoje, os Kirirí deixaram de vender apenas para intermediários e têm moinhos e fábricas para a fabricação de farinha, biscoitos e doces de mandioca.

(L-R) João Leandro Araujo Leo, 24, Gabriel Pantaleon dos Santos, 15, and Sandra Beatrice Jardim Souza, 40, make cooks from cassava flower made in the village, at Aldeia Marcação Kiriri, near Ribeira do Pombal, Bahia, Brazil, on Tuesday, April 12, 2016. They make 14 kilos of cookies a day and sell 50 kilos a month to nearby schools. They rest is sold at farmers markets. The earnings are divide among the Kiriri tribe members who work in the copperative. For every kilo they sell, they earn 22 reals, or about 6 USD. "Working in the cooperative helps me stay independent," says Sandra Beatrice Jardim Souza, 40. "I learn a lot and it expands my capacity everyday. Before I was in the house taking care of the kids. Now I help my community develop." Sandra is not a Kiriri but she met her husband, who is Kiriri, 21 years ago in Sao Paulo. When they returned to the aldeia, she worked along side her husband in the field growing crops and raising cows.

João Leandro Araújo Leo, 24 anos, Gabriel Pantaleão dos Santos, 15 anos, e Sandra Beatriz Jardim Souza, 40, fazem cozinheiros de flor de mandioca feita na aldeia, na Aldeia Marcação Kiriri, perto da Ribeira do Pombal, Bahia.

O centro onde Adriana trabalha produz 14 quilos de biscoito por dia e vende, mensalmente, 50 quilos do produto para escolas locais. O restante da produção é encaminhado para mercados regionais. O lucro é repartido entre todos os trabalhadores.

"Working in the cooperative helps me stay independent," says Sandra Beatrice Jardim Souza, 40, who makes cookies in the cooperative, at Aldeia Marcação Kiriri, near Ribeira do Pombal, in the state of Bahia, Brazil, on Tuesday, April 12, 2016. "I learn a lot and it expands my capacity everyday. Before I was in the house taking care of the kids. Now I help my community develop." Sandra is not a Kiriri but she met her husband, who is Kiriri, 21 years ago in Sao Paulo. When they returned to the aldeia, she worked along side her husband in the field growing crops and raising cows.

ais.todo mundo ficava em casa com suas famílias. Agora que estamos ganhando algum dinheiro, podemos guardar e estudar”, comenta Adriana, otimista.

Cada quilograma é vendido a 70 reais. Desse valor, 30% vai para os profissionais. Os outros 70% são reinvestidos na companhia e pagam custos com manutenção e despesas operacionais.

“Antes, todo mundo ficava em casa com suas famílias. Agora que estamos ganhando algum dinheiro, podemos guardar e estudar”, comenta Adriana, otimista.

As estratégias das autoridades da Bahia combinam o uso de saberes tradicionais dos beneficiários com a adoção de tecnologias para a adaptação ao clima do sertão.

"My grandmother taught me how to make ceramics when I was a child," said Eduarda Amélia de Jesus, 74, right, at her home with her daugher, Maria Iracema Jesus de Souza, an old colonial home where she makes pottery and stores her clay, tools and finished pots, at Aldeia Mirandela, in Ribeira do Pombal, in the state of Bahia, Brazil, on Wednesday, April 13, 2016. Dona Eduarda did want to say her age, but we guess its about 74-years-old. She is the wife of the tribe chief, Lazaro Gonzaga de Souza, 76. They wear their native garb made out of grass in honor of Día do Índio, or Indigenous Day, celebrated on April 19.

“Minha avó me ensinou a fazer cerâmica quando eu era criança”, disse Eduarda Amélia de Jesus, de 74 anos, em sua casa com sua filha, Maria Iracema Jesus de Souza, uma antiga casa colonial onde faz cerâmica e armazena Argila, ferramentas e vasos acabados, na Aldeia Mirandela, na Ribeira do Pombal, no estado da Bahia.

Exemplos incluem a construção de represas e cisternas para a coleta de água, a criação de usinas de biogás e a reciclagem da manipueira — um líquido venenoso que é um resíduo da prensa da mandioca e pode ser usado como fertilizante ou pesticida natural após processamento.

Outra inovação foi a implementação de biodigestores — tanques de cimento que servem de depósito para as fezes da pecuária. A decomposição natural dos dejetos libera metano, que é utilizado nos fogões da comunidade para o preparo de alimentos. Misturados a 15 litros de água, cinco quilos de estrume produzem, após duas horas de decomposição, gás suficiente para o consumo diário de uma cozinha.

Some members or the Kiriri tribe look at a biodigester, built four years ago, at a home of one tribeman, at Aldeia Marca‹o Kiriri, near Ribeira do Pombal, in the state of Bahia, Brazil, on Tuesday, April 12, 2016. The system breaks down cattle manure and converts it into methane gas to be used as energy for cooking stoves. The byproduct is then used as fertilizer.

Alguns membros ou a tribo Kiriri observam um biodigestor, construído há quatro anos, em uma casa de um tribo, na Aldeia Marca o Kiriri, perto da Ribeira do Pombal, no estado da Bahia.

Mais do que produzir alimentos

Outro pilar dos projetos de desenvolvimento apoiados pelo FIDA é a introdução de meios de geração de renda que não sejam agrícolas. Entre eles, estão o artesanato de bijuterias e cerâmica, bem como a tecelagem que usa, como matérias-primas, o algodão e o imbé — fibra da palmeira Licuri. Os produtos são comercializados em feiras pelo estado e até mesmo em Salvador.

Fonte: ONU