CAFE
Hora do Café

Por Sandra Racy (*)

Começamos o ano mantendo a proposta de contar histórias ligadas ao café neste país continental que de tempos em tempos nos surpreende com algo positivo no cultivar. Diferentes regiões, costumes, heranças e memórias perpassam pelo tema e a cada dia nos vemos diante de informações que nos levam a pensar como o café une culturas, etnias e famílias inteiras que se dedicam ao seu desenvolvimento.

Depois de visitarmos com nossos posts a Bahia (Vitória da Conquista), Minas Gerais, São Paulo, dentre outros estados, chegou a vez de conhecermos o que  a região amazônica nos proporciona no cultivar do café. Começamos registrando que, diferentemente de alguns estados, os amazônicos trazem o café robusta, enquanto que os outros quase que na sua maioria produzem o café arábica, assim, acreditamos que as diferenças se dão pelas condições climáticas e também da terra, e pode-se dizer que o estado de Rondônia é referência no cultivar do café.

Todo este investimento e desenvolvimento trouxeram, literalmente, frutos. Em 2020, o Robusta Amazônico (rondoniense) especial e sustentável da família indígena Aruá, se tornou mais conhecido com a conquista do jovem cafeicultor Tawã Aruá, de 22 anos, que obteve o terceiro lugar no Concurso de Qualidade e Sustentabilidade do Café de Rondônia – Concafé 2020.

Para Tawã, a visibilidade que o café especial trouxe à população indígena é muito importante. “Produzir café especial não é um trabalho muito fácil, mas nosso esforço e dedicação está sendo muito bem reconhecido”, afirma o jovem cafeicultor. Para ele, este fator traz maior incentivo para o trabalho desenvolvido na  região.

Tawã tem na família todo apoio e orientação para essas conquistas, pois seu pai, Valdir Aruá, também foi vencedor do prêmio em 2018, quando ficou em segundo lugar no mesmo concurso e se tornou símbolo de uma cafeicultura inclusiva e sustentável na Amazônia. A família é da aldeia São Luís, na Terra Indígena Rio Branco, no município de Alta Floresta D’Oeste, que fica a cerca de 600 quilômetros da capital de Rondônia, Porto Velho.

Os Aruá já trabalham com café há 18 anos e para os representantes do cultivar em Rondônia, Tawā e o pai estão entre os melhores exemplos de dedicação ao café no estado e também na evolução da união entre os mais jovens e o conhecimento dos experientes, considerando que a conquista de Valdir Aruá deu início não só ao incentivo dos mais jovens, como também a uma transformação diante da ótica da cafeicultura indígena até mesmo na própria aldeia, no estado e no Brasil.

Importante destacar que a produção da família Aruá não leva produtos químicos, é um Robusta Amazônico sustentável, que pode então ser aliado da floresta, tendo atenção a cada detalhe na colheita e pós-colheita.

(*) Sandra Racy é jornalista e barista

Foto do alto – crédito: Renata Silva