Mari Williams, da etnia Wapichana, foi eleita a primeira Miss Indígena de Roraima — Foto: Reprodução/Facebook/Mari Williams

Mari Williams, de 18 anos, é da etnia Wapichana e representará o estado em um concurso nacional, em novembro, no Paraná.

Por Suzanne Oliveira — Boa Vista

“Um dos meus objetivos maiores, uma das causas que me fez querer fazer parte desse concurso, foi isso: buscar representar meu povo dentro desse mundo miss, que tem muita visibilidade”. É com essa representação que Mari Williams, de 18 anos, a primeira Missa Indígena de Roraima, pretende conduzir o reinado.

Em entrevista a mais nova miss, que também é técnica em aquicultura pelo IFRR, professora temporária no governo do estado, e acadêmica de matemática na UERR, disse que esta foi a primeira vez que participou de um concurso. Ela foi “coroada” no último sábado (18).

A possibilidade de representar o povo Wapichana e mostrar o valor que as mulheres indígenas têm, foi o que a motivou a encarar a disputa. Mari Williams é da comunidade Raimundão, em Alto Alegre, e concorreu no concurso como miss indígena do município.

“Sempre quis representar o meu povo de alguma forma. Levar as nossas causas, mostrar nossa realidade e ainda não tinha tido a oportunidade de fazer isso. Quando esse concurso apareceu, e lá estava dizendo que eles não estabeleciam um padrão, falei: eu vou participar, porque quero mostrar como nós mulheres indígenas somos, mostrar que nós não temos um padrão, que nós, mais ‘cheinhas’ também podemos estar nesse mundo. Que temos mais que isso, que não somos só corpo”, disse.

Mari define as mulheres indígenas como um conjunto que tem histórias de luta, vida, inteligência e propósitos. Ela avalia que a vitória no concurso vai ajudá-la na representação das causas indígenas, não só pela visibilidade, mas para que barreiras possam ser quebradas.

“Até então, nós não tínhamos espaço, mas agora temos e é uma conquista dos povos indígenas de Roraima. Agora, podemos levar as causas dos nossos povos para esse mundo. As nossas preocupações e lutas, elas chegarão a qualquer lugar e ganharemos com isso muito apoio e, isso, é muito importante nas causas indígenas. Precisamos de apoio, para que possamos quebrar barreiras e estarmos onde a gente quiser estar”.

Filha de pai Wapichana e a mãe Macuxi, Mari também usa o sobrenome “Baydukuryaba”, que significa onça em Wapichana.

Na competição, a Miss Indígena levou para a passarela inspirações da cultura Wapichana e destacou o papel da mulher no cenário roraimense.

Mari conta que ouviu piadas sobre seu corpo e suas origens — Foto: Reprodução/Instagram/Maariwilliams

Mari conta que ouviu piadas sobre seu corpo e suas origens — Foto: Reprodução/Instagram/Maariwilliams

‘Uma mulher guerreira’

A miss se define como uma “uma mulher muito guerreira”. Ela também contou o que sentiu ao ser eleita a primeira indígena Miss e lembra, ainda, que chegou a pensar em desistir por ter ouvido comentários negativos sobre seu corpo e suas origens

“Foi uma sensação maravilhosa e gratificante. Não foi fácil chegar até aqui, exigiu muito esforço, dedicação e doação de mim. Todo o esforço que fiz, valeu a pena. Se eu estou aqui, é por mérito meu. No momento em que anunciaram a candidata vencedora, passou um filme na minha cabeça, de tudo o passei e vivi. Tive que enfrentar muita coisa, ser forte e, hoje, posso dizer que determinação é o meu sobrenome. Tive muitos motivos para desistir e não desisti. Pessoas falando sobre o meu corpo, fazendo piadas sobre ele, piadas sobre a minha cultura, minhas origens. Não é fácil a gente se calar e, falar também, se posicionar, se defender, mas é necessário”, disse.

Agora, Mari representará o estado de Roraima no concurso nacional, previsto para ocorrer no mês de novembro no Paraná.

Quem é Mari?

“Eu defino a Mari, como uma mulher muito guerreira, que saiu aos 13 anos de casa para estudar, que aos finais de semana, no alojamento, às vezes, não tinha o que comer, mas que nunca desistiu, que sempre foi em busca dos sonhos. Mari teve muitos motivos para desistir de tudo, mas nunca desistiu. Sempre lutou para estar onde está hoje porque, de onde a gente vem, qualquer conquista é muito importante, mesmo que seja pequena”, diz a jovem miss.

Ela se define, ainda, como uma pessoa determinada, guerreira e batalhadora, que quer conquistar o mundo. “Não me contento com pouca coisa. Eu quero ir longe, levar minha história para o mundo, quero que eles conheçam, através de mim, o meu povo. Mari é representatividade, Mari é diversidade”, finalizou.

O concurso para escolher a primeira Miss Roraima ocorreu no Palácio da Cultura Nenê Maccagi, em Boa Vista. Ao todo, dez misses disputaram. As participantes representaram as etnias Macuxi, Wapichana, Sapará e Taurepang.

A jovem foi eleita, primeiramente, Miss Alto Alegre Indígena 2021 — Foto: Reprodução/Instagram maariwilliams