Apib atribui falta de diálogo a política deliberada do governo Bolsonaro

Presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier só teve duas reuniões com indígenas em 2022.

Segundo apuração da BBC News Brasil, das 89 agendas oficiais, ele só recebeu indígenas pessoalmente em seu gabinete uma vez, quando foi visitado por membros do povo Kayapó, no dia 31 de maio. O outro encontro ocorreu fora, em uma feira agropecuária em Brasília, em 20 de maio, quando Xavier esteve com indígenas que participaram do evento.

Ainda de acordo com a publicação, a postura do atual presidente da Funai contrasta com gestões anteriores, incluindo no início do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Na gestão do general Franklimberg de Freitas, que antecedeu Xavier, mais de 500 lideranças indígenas foram recebidas em dezenas de encontros ao longo de seis meses. Segundo o site da Funai, Freitas visitou 20 comunidades indígenas diferentes enquanto comandava a instituição.

Conforme apurou a BBC, Marcelo Xavier concentra o maior número de visitas de trabalho ao Mato Grosso, onde ele viveu antes de se mudar para Brasília. Consta na agenda oficial que ele passou 27 dias laborais no estado, desde setembro de 2020, quando o portal do governo federal passou a registrar seus compromissos oficiais. No período ele não viajou para estados onde há presença relevante de comunidades indígenas.

Ao ser questionada sobre a predominância das agendas no MT, a Funai não respondeu. Por meio de nota, a instituição se limitou a dizer que “mantém o compromisso de diálogo permanente com as lideranças indígenas de todo o Brasil” e afirmou ter recebido membros de várias etnias na sede, em Brasília. Segundo a Funai, “na maioria dos encontros, houve participação de representantes da Presidência da fundação”, ainda que o presidente não estivesse presente.

Coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Alberto Terena criticou a falta de diálogo com a Funai atualmente em comparação com gestões anteriores. “Mesmo que não saíssem as demandas que queríamos, pelo menos tínhamos acesso ao órgão”, disse ele à BBC, atribuindo a postura do órgão a uma política deliberada da administração Bolsonaro.

“No governo atual, com o Marcelo [Xavier], houve um rompimento do diálogo com o movimento indígena”, afirmou Terena, segundo o qual, só têm sido recebidos no órgão indígenas que “rezam a cartilha do governo”.