Por Matheus Leitão

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Ao ser exonerado em 2019 da Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Funai, Bruno Pereira foi substituído pelo pastor Ricardo Lopes Dias, um missionário que não compreendia a política de zero contatos com esses povos originários moradores do Vale do Javari, onde o indigenista foi assassinado.

Interações com esses povos no passado levaram a tragédias, ocasionando morte de até 70% da população de tribos por doenças como gripe ou sarampo, porque eles não têm imunidade para os vírus e bactérias com os quais os não indígenas convivem. A Funai aprendeu com os próprios erros até que compreendeu e colocou em prática a política de zero contato – isso, na década de 80.

 

Com o novo diretor no cargo, o risco era de romper com a política bem sucedida de não contato. Essa era uma das grandes preocupações de Bruno Pereira, que diversas vezes trouxe essa preocupação à coluna.

 

Nesse áudio revelador Bruno Pereira demonstra não só que a ala ideológica da extrema-direita, comandada por Bolsonaro, tomou de assalto a Funai, mas que Ricardo Lopes Dias “não entregava os produtos” que o presidente da Fundação, Marcelo Xavier, ligado aos ruralistas, queria em terras indígenas.

 

Por isso, depois de muita pressão, o pastor fundamentalista começou a balançar no posto. Essa conversa foi gravada poucas semanas antes de Ricardo Lopes Dias deixar o cargo à frente da CGIIRC, como mostrou a coluna na época.

 

“Na Funai, ele [Ricardo Lopes Dias] é motivo de chacota. Quem segura ele é a bancada evangélica, junto com a Damares, né? E já estava se construindo, o cara deixando na mão, um bombardeio danado na questão dos índios isolados. [Ele] não sabe nem como lidar. E eu acho, aqui de bastidores também, que ele não entrega o que o presidente [Marcelo Xavier] quer, os produtos que o presidente quer. O presidente é ligado aos ruralistas, né? E aí entram os empreendimentos, assim assado, não é? Então o cara [Ricardo Lopes Dias] está ‘sobrecado’”.

 

Neste segundo trecho (ouça o primeiro aqui) de gravação publicado pela coluna, o indigenista também revela o trabalho nos bastidores da pastora Damares Alves, ex-ministra dos Direitos Humanos para manter o missionário Ricardo no cargo. O pastor ficou na área de Índios Isolados e de Recente Contato por nove meses, entre fevereiro e novembro de 2020.

 

A coluna já denunciou que Marcelo Xavier trabalhava por ruralistas dentro da Funai.

 

GRAVAÇÕES

A coluna tem conversas gravadas com o indigenista Bruno Pereira sobre a situação de risco no Vale do Javari, os muitos erros e as diversas perseguições que aconteceram nos últimos anos na Fundação Nacional do Índio.

 

As conversas ocorreram a meu pedido e são o resultado da relação de confiança estabelecida entre um jornalista e uma fonte que, por vários anos, trocaram informações, principalmente durante o governo Jair Bolsonaro, quando a crise da Funai se agravou.

 

A coluna trará trechos neste espaço porque os alertas do Bruno elucidam o ambiente de crime que este governo permitiu que se espalhasse pela Amazônia, e também são uma radiografia do cotidiano desse desmonte institucional na Fundação.

 

Na época que conversamos era para a não divulgação da fonte, mas agora a voz do Bruno é ainda mais importante para elucidar os graves fatos na região amazônica – mais especificamente no Vale do Javari, dominado por criminosos.

 

Trata também do custo para os país do desmantelamento da Funai no governo Bolsonaro, com a ausência do Estado e, agora, a crueldade cometida contra o indigenista e o jornalista Dom Phillips.

 

Por isso, esta coluna não deixará que as denúncias de Bruno Pereira morram com ele.

Não é apenas o presidente Jair Bolsonaro (PL) que está descontente com a política de preços da Petrobras que resultou em novo reajuste nos combustíveis nesta sexta-feira. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP) e o ministro do Supremo Tribunal Federal, André Mendonça, também entraram na contenda envolvendo a empresa. Lira chegou a dizer que “vai para o pau” contra o presidente da empresa.

 

Já Mendonça proferiu decisão para fazer a empresa explicar a paridade dos valores da gasolina e do diesel com o mercado externo na Justiça.