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Funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) temem que ocorra nos próximos dias uma escalada da violência em Coronel Sapucaia (MS), município localizado a 420 km de Campo Grande, na fronteira com o Paraguai. Um ataque no último domingo (31) ao acampamento indígena Kurussu Ambá, da tribo Guarani-Kaiowá, acirrou os ânimos na área. A situação é semelhante à noticiada em Juti (MS).

Aproximadamente 30 famílias indígenas foram retiradas do local, onde hoje há uma fazenda. De acordo com o coordenador regional da Funai de Ponta Porã, Elder Ribas, as casas ocupadas pelos índios foram todas queimadas. A assessoria do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) informou que a ação teria partido de pistoleiros, a mando dos fazendeiros da região.

“Os 90 indígenas, entre eles 30 crianças, foram acomodadas em acampamento que fica na fazenda Barra Bonita”, afirmou Ribas. Ele ainda afirmou que, embora chamada, a polícia não apareceu para conter os incidentes de violência.

“Um grupo de indígenas ouviu os pistoleiros dizerem que iriam aguardar a Funai sair do local pra atacar a (fazenda) Barra Bonita também. Por isso nós permanecemos (na área de conflito), aguardando que a PF (Polícia Federal) ou a Força Nacional venham pra área”, explicou ao Cimi o servidor da Funai Jorge Pereira.

“Nós chegamos e vimos as casas sendo queimadas, pessoas correndo, gritando. A gente tá ligando desesperadamente pras autoridades. A gente tem medo de sair daqui e a coisa piorar. Eles vão atacar. Os indígenas nos mostraram as cápsulas de balas. A gente vê o movimento de caminhonetes, cavalos”, emendou Pereira.

Segundo informações do site Campo Grande News, pistoleiros chegaram em pelo menos três caminhonetes no último domingo e expulsaram os índios a tiros, destruindo todas as moradias da tribo na área. Em nota, o Cimi criticou a ausência da polícia e de autoridades na região, a fim de mediar o conflito e evitar episódios de violência.

“É inadmissível o descaso das forças de segurança, que até o momento sequer estiveram no local para garantir a mínima integridade dos indígenas e impedir que novos ataques ocorram. Num jogo de empurra-empurra entre Policia Militar (PM), Policia Federal (PF), Departamento de Operação de Fronteira (DOF) e Força Nacional (FN), nenhuma tomou qualquer tipo de providência desde que os ataques iniciaram e foram notificados. Servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) encontram-se neste momento no local e também estão desprovidos de qualquer apoio.

Segundo eles, novos ataques contra os indígenas de Kurusu Ambá são iminentes. Indígenas tentaram retomar o acampamento que foi incendiado, porém jagunços e servidores da fazenda se encontram no local e o clima é de alta tensão. Caminhonetes já se movimentam e ameaças de morte já foram novamente proferidas contra as lideranças indígenas.

Lamentavelmente, enquanto novos crimes e atentados premeditados podem estar prestes a ocorrer, as forças policiais, o Ministério da Justiça e o governo do estado do Mato Grosso do Sul assistem a tudo calados, garantindo assim aos jagunços porteira aberta para a possibilidade de novos assassinatos, em uma terra onde nos últimos sete anos foram executadas mais de 10 lideranças do povo Guarani e Kaiowá”.

A fazenda atacada no dia 31 de janeiro é a mesma ocupada pelos índios em junho de 2015. Naquela ocasião, fazendeiros expulsaram os indígenas com violência, com um saldo de duas crianças desaparecidas e vários feridos. Na mesma área, duas lideranças dos índios foram assassinadas em 2007.

Como outras áreas no Mato Grosso do Sul e em outros Estados brasileiros, a demarcação já chegou a ser homologada, mas disputas jurídicas ou a falta de decreto presidencial não tiram o acesso dos índios às terras do papel. Com a alegação de dar ‘agilidade’ ao processo, a Bancada Ruralista articular a PEC 215/2000, que quer tirar da Presidência da República e dar ao Congresso a decisão sobre demarcações de terra no País.