Em entrevista o guitarrista Andreas Kisser, o ex-vocalista Max Cavalera e o então líder dos xavante, Cipassé, relembraram o encontro histórico. Choque cultural é o termo que melhor define a reunião entre quatro jovens metaleiros, tatuados e de longos cabelos, e índios que ainda vivem no campo, fincados em suas raízes. A ideia partiu do Sepultura, mas gerou frutos para ambas partes, levando a cultura dos xavantes para o mundo todo.

O flerte do Sepultura com a música tradicional brasileira teve início no álbum anterior, “Chaos AD“, na música “Kaiowas“, uma composição acústica e focada no violão e percussão. Max conta que a ideia de fazer algo junto a uma tribo indígena cresceu entre eles, principalmente quando ele assistiu ao filme “Brincando nos Campos do Senhor”, em que missionários americanos tentam converter índios ao cristianismo. “A parte do filme em que Tom Berenger se lança de paraquedas [para cair na aldeia] me deu a ideia para ‘Roots’. Pense: ‘Vamos lá gravar um disco com a tribo. Seremos a primeira banda a fazer isso'”, diz Max, em sua biografia, “My Bloody Roots”.

Primeiro ele teve de convencer a gravadora Roadrunner. Depois, entrou em contato com a jornalista Angela Pappiani, do Núcleo de Cultura Indígena, que já desenvolvia trabalhos com grupos indígenas. A princípio, Max achou que seria uma boa ideia tentar gravar com os caiapós, mas foi avisado então de que eles não eram muito pacíficos. Depois de ouvirem uma música dos xavantes em um festival em Nova York, foram eles os escolhidos.

“O que o Sepultura fez foi muito inovador, e ninguém mais fez dessa forma. A decisão deles de ir lá, de não samplear, mas construir um trabalho junto foi muito inovadora”, afirma Angela. “E houve um esforço muito grande em tudo. Sentimos resistência da gravadora, foi um processo de quase um ano do contato do Max até a ida à aldeia. E tudo o que aconteceu lá foi muito forte, marcou todo mundo, marcou o pessoal da aldeia, eles lembram e comentam até hoje.”

Arquivo Folha

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“Kit Sepultura” para os índios

Angela levou um “kit Sepultura” para os xavantes e apresentou a banda à comunidade de 500 habitantes, que aceitou recebê-los. A reação foi de estranheza com o metal pesado, mas sem repulsa. O quarteto embarcou em Goiânia e dois aviões fretados pousaram na região de Camarana, no Mato Grosso, para a missão de três dias.