Mostra do artesanato dos Índios Tupinambá de Olivença, produzido em comunidades. Foto: (Janaína Soares)

Um estudo apresentado nesta segunda-feira (13), em Roma revelou que os povos indígenas carecem de acesso ao crédito necessário para vender seus produtos junto ao setor privado, com o qual estão dispostos a se associar.

De acordo com a presidente do Centro para a Autonomia e Desenvolvimento dos Povos Indígenas (CADPI), Mirna Cunningham, a “percepção antagônica” entre as empresas privadas e os índios “não é tão real quando vistas em experiências de trabalho conjuntas”.

A partir de uma sugestão do Fórum Permanente para Questões Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU) para explorar mecanismos de relação com o setor privado, foi elaborado um relatório sobre setes casos de parceria em várias regiões do mundo. Entre suas conclusões, Mirna detalhou que os indígenas têm interesse em integrar o mercado “quando assegurada a proteção de seu território, respeitada sua identidade e valorizados seus conhecimentos tradicionais”.
Segundo o estudo, as empresas começaram a se relacionar com esses povos como um exercício de responsabilidade social corporativa, se transformando depois em uma “questão de respeito” entre as duas partes.
As experiências feitas, duas delas no Brasil e na Guatemala, mostram que a cooperação internacional teve um papel “facilitador” no estabelecimento desses vínculos e que o reconhecimento dos saberes tradicionais das comunidades funciona como “elemento de atração para o mercado”. No entanto, Mirna ressaltou que os indígenas continuam sem dar evoluir pela falta de crédito e por conta do alto preço da certidão, que permitiria dar valor a seus produtos.

Nesse sentido também se pronunciou Valeria Bigliazzi, cofundadora da Cooperativa Chico Mendes, que promove o comércio justo com produtores locais da América Latina. Ela deu como exemplo os coletores de frutos na Amazônia, que dificilmente podem assumir sem crédito um trabalho que gasta até dez meses e que demanda, entre outros aspectos, viagens em canoas por rios que são só navegáveis por pouco tempo.

“Existe um mercado que não somos capazes de abastecer de forma suficiente”, apesar de essas atividades aumentarem a renda dos produtores até 30%, segundo ela.

Valeria afirmou que algumas comunidades estão proporcionando adiantamentos de dinheiro sem juros, frente às taxas de 16% ao ano que às empresas de microcrédito costumam pedir em países como a Bolívia e perante a recusa de outros atores de financiá-las por não aceitar como garantia terras cuja posse é coletiva e não individual.

Em sua opinião, estes produtores têm pouco apoio das instituições, recebem pouca formação técnica e carecem de serviços sociais e infraestruturas, entre outros problemas.

Para o presidente do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe (FILAC), Pedro Posada, a chave está na conscientização dos consumidores. Para ele, o público final pode, em última instância, impulsionar o comércio de produtos indígenas deixando de comprar de empresas que não respeitem o meio ambiente ou a vontade dos povos em projetos que os envolvem.

Fonte:Uol