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Cacique Juvenal Payaya*

Carrego, como indígena, um peso nos ombros. Por um lado fazendo mea culpa  por não ter palavras para, de forma coerente, bem expressar  os sentimentos herdados da ancestralidade, por outro, por estar sempre  buscando outros conhecimentos para bem entender os sentidos como  continuidades da vida.

Daí eleger o preconceito para o debate: o preconceito  contra o povo  indio pela sociedade dita culta como ponto instável.

E penso: logo o índio,  essa raça nativa que vivia isolado sem atrapalhar ninguém?

O preconceito foi e é mesclado de ódio e pena – pena é o verniz da  falsidade.

A  princípio  como se fôssemos uma nuvem isolada, ameaçadora  que um dia passa – mas o índio não passa (não passarão).

Ai vem as armadilhas que é a miscigenação  e a integração, a arma de  fogo, o desprezo, a pobreza.

Parece unânime a forma de pensar: ou se integra ou evapora.

O povo indígena está fora da arte, da moda, da ciência, da política, do cinema, da literatura(?), da educação, da sociedade”civil” da justiça, da navegação, da medicina, da agricultura, “proprietário de terras”, do mercado,  exportador,;  das finanças, da produção, do comércio, da indústria, das decisões globais, da segurança pública, das relações internacionais, do empreendedorismo, da gestão, da religião, do lazer, da filosofia.

O  peso cai sobre meus  ombros e a cabeça, por  não saber, não compreender na  totalidade a essência do que brota  do espírito nativo, o que realmente contribue para para a preservação étnica desse povo milenar, indiscritivel

É com espanto que noto o esforço das comunidades para “educar” seus jovens e após   as comunidades ou o indivíduo avançar para  certo grau de conhecimento aplicado, ser descaracterizado como fruto de uma  ação  “indígena”, o índio integrado socialmente transforma-se  em “neto de indio.. em descendente … em ex índio” como se fosse possível essa  simbiose.

A  justificativa  é preconceituosa, socialmente,  institucional, educacional e religioso e desumana,  maldosa,

Somos indios e como tal nossos filhos, os analfabetos, os mestres e os doutores. Eles  serão sempre – e não passarão..

Assim penso  ser determinante para o homem público o caráter  identitário, não como uma exigência formal mas como um princípio de caráter étnico vindo da alma

-ética como  um pricipio étnico-

Cacique Juvenal Payayá. Escritor e Secretário do Movimento Único de Povos e Entidades Indígenas da Bahia (Mupoiba)