INDIGENA NA SALA DE AULA
Dificuldades estruturais: muitas das escolas indígenas ainda não têm energia, água potável e acesso à internet — Foto: Alexandre Cassiano.

Escolas das aldeias enfrentam problemas estruturais e parte dos conteúdos ainda tem, na avaliação das lideranças, a visão dos “colonizadores”

Fonte do conhecimento mais antigo em terras brasileiras, os indígenas têm muito a ensinar: o tempo da vida, a importância da mãe-terra e das florestas. No entanto, os povos tradicionais convivem, até hoje, com um profundo descaso. As escolas das aldeias enfrentam graves problemas estruturais e parte dos conteúdos ainda é, na avaliação das lideranças, produzida a partir da visão dos “colonizadores”.

“A gente deveria recontar a história dos povos indígenas de forma diferente. Ainda usamos a versão do colonizador na escola, que fala que o Brasil foi descoberto. Mas a verdade é que foi invadido.

Precisamos contar como o Brasil foi construído e valorizar a cultura dos diversos povos indígenas, que estão por todo o país”, diz Txai Suruí, ativista indígena que estará na próxima semana no Festival LED – Luz na Educação, que será realizado nos dias 8 e 9 deste mês, em dois museus do Rio.

Especialistas em educação apontam que a escola foi utilizada, desde o começo do século XX, como uma forma de controle do Estado sobre povos originários. A Constituição de 1988 passou a assegurar direitos culturais aos indígenas, o que fez com que suas tradições, inclusive cotidianas, e não apenas relativas ao passado, passassem a ser contempladas.

 

No entanto, as escolas nas aldeias sofrem atualmente com falta de estrutura. Dados do Censo Escolar de 2021 mostram que o Brasil tem 3.466 escolas indígenas. Dessas, 30% não têm energia e 63%, água potável. Já internet para uso de alunos e biblioteca ou sala de leitura são recursos praticamente inexistentes. O acesso à rede mundial de computadores só está disponível em 10% dos colégios nessas áreas, e bibliotecas só existem em 13% das unidades. “Por lei, os povos indígenas têm uma educação diferenciada. Mas isso não existe na realidade”, critica Txai.

Outra participante do Festival LED, Sâmela Sateré Mawé, ativista ambiental indígena do Fridays for the Future Brasil, lembra que a cultura dos povos nativos tem dois tipos de educação. A primeira é aquela da vivência com a comunidade, desde o nascimento, quando se aprende com a observação e a experiência dos mais velhos, escutando o que eles têm a dizer. A segunda via de aprendizado é a escola.
“A escola indígena precisa levar em consideração nossas identidades. Além disso, a maior parte das aldeias só tem educação infantil e ensino fundamental. Com isso, os indígenas precisam ir para o município mais próximo para avançar nos estudos ou parar de estudar – explica Sâmela.                         O Festival LED – Luz na Educação é realizado pela Globo e pela Fundação Roberto Marinho em parceria com a plataforma “Educação 360 – Conferência Internacional de Educação”, da Editora Globo, com patrocínio de Invest.Rio e apoio do Coppead. Ele é um pilar do Movimento

 

LED PJG

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LED, que tem como objetivo estimular práticas inovadoras na educação brasileira e reconhecer quem está revolucionando o cenário do setor. Txai vai participar da conversa “Consciência ambiental: aprendizados ancestrais para um novo amanhã”, com a diretora-executiva do Instituto Arapyaú, Renata Piazzon, e mediação da atriz Leandra Leal. Elas vão tratar da relação das comunidades indígenas com a natureza e de como os aprendizados ancestrais são fundamentais para a construção de um novo amanhã em harmonia com o meio ambiente.

 

“Os indígenas têm um conceito da interdependência que é fundamental na contemporaneidade. Para os povos originários, não existe separação entre natureza e humanos. Para os não indígenas, esse conceito era distante até a pandemia de covid. Mas ali ficou muito claro o risco de uma crise global causada por uma situação disruptiva entre homem e natureza. A vulnerabilidade diante de um vírus evidenciou nossa interdependência, não só comercial, geopolítica ou econômica: somos interdependentes para a vida no planeta.

 

Além de Txai Suruí, o evento ainda terá a participação de outros dois convidados indígenas. O antropólogo e ex-secretário de Educação de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, Gersem Baniwa, participará da mesa “Por uma educação mais sustentável, inclusiva e justa” ao lado da professora, psicóloga e ativista Cida Bento e do jornalista e escritor Eduardo Bueno. A mediação será da jornalista Valeria Almeida, do programa Bem-Estar, na TV Globo.