AM: Projeto educacional resgata cultura indígena no Parque das Tribos
Os conceitos são repassados por meio das aulas realizadas pela professora Cláudia Baré, no espaço cultural WakenaI Anumarehit, chamada carinhosamente pelos alunos de “escolinha”.
Localizada desde 2014 no bairro Tarumã, a comunidade busca preservar as tradições da cultura indígena. Para eles, língua e cultura andam lado a lado, pois é o que mantém os moradores unidos.
Os conceitos são passados por meio das aulas realizadas pela professora Cláudia Baré, no espaço cultural WakenaI Anumarehit, chamada carinhosamente pelos alunos de “escolinha”. A pedagoga e professora indígena que pertence a etnia Baré, destaca que a educação escolar visa é conquistas futuras, já que grande parte dos moradores pretendem permanecer no local. ” Atualmente nós fazemos o fortalecimento da nossa cultura por meio da língua. Esse ano, 48 alunos já estão matriculados aqui no Centro Cultural e nós desenvolvemos desde o estudo da língua, atualmente Nheengatú, até a produção de artesanato, cinema, brincadeiras, peças e tudo que ajude a valorizar a cultura indígena”
Os alunos produzem trabalhos que beneficiam toda a comunidade. | Foto: LEONARDO MOTA

Multilinguismo
Segundo Cláudia a comunidade conta com 35 etnias e 14 línguas falantes, mas 5 delas são predominantes no local; Nheengatú, Tikuna,Tukano, Kokama e Baniwa
Mas a educação para os alunos não se limita só ao Parque das Tribos, eles também são matriculados no ensino regular em escolas estaduais e municipais, espalhadas em toda a cidade. Essa carga horária é chamada de contra tuno e serve para que eles se tornem capacitados na língua portuguesa.
O ensino na comunidade é trabalhado desde a alfabetização de crianças de 3 anos até os adultos, tanto no português quanto na língua indígena. E apesar de todos os alunos estudarem juntos, cada um possui uma percepção que os aproximam de suas raízes. É o que destaca a aluna Shirley Thomas.
“A educação que recebemos aqui possibilita a conexão com a nossa origem, eu por exemplo, participo das peças do espaço cultural e é ótimo porque eu conheço inúmeras histórias da minha etnia e de outras, isso faz com que eu tenha mais conhecimento sobre várias etnias”.
A estudante também destacou as aulas de empreendedorismo que são oferecidas no espaço e como isso pode auxilia- lá futuramente.
“Muitos jovens se voltam para outras atividades que não trazem tanto valor, aqui eu tenho aula de empreendedorismo isso me mostrou que eu posso usar os artesanatos que eu sei fazer para ganhar uma renda a mais, isso me faz uma artesã e sou muito feliz com isso”, finalizou Shirley.
Coparticipação
A educação na comunidade é oferecida pela Secretaria Municipal de Educação, por meio da Gerência de Educação Escolar Indígena (Geei), que junto aos moradores escolhem o conteúdo que será abordado e ao fim do ano, todos os professores dos 17 espaços indígenas se reúnem em mostra pedagógica para apresentar os trabalhos executados. Segundo o gerente do departamento, Glademir Sales, os centros recebem uma equipe multidisciplinar que executam os trabalhos.
“Nossa equipe é formada por 700 professores, compostas por professores, pedagogos e antropólogos linguísticos, em 2020 já foram matriculados 800 alunos no geral, e para nós é extremamente importante levar ensinamento indígenas há esses alunos, porque é um meio de resgate da identidade deles tanto na língua como nos costumes, afinal é fundamental preservamos esse povo”.

Identidade Cultural
Para o estudante do parque das tribos Franckson Bastos, entender sua origem ajudou na convivência com os “brancos”, alunos da escola de ensino regular na cidade.
“Quando eu comecei a frequentar a escola fora da comunidade eu tinha vergonha de me relacionar, falar que eu era índio e depois que eu descobrir sobre a minha etnia, eu me encontrei e encantei depois eu comecei a dizer que eu era indígena e eu me orgulho cada vez mais, até porque não é qualquer um que sabe falar português e tikuna”.
Nesse caso, o orgulho é compartilhado e chega para todas as famílias, Vicelônya Martins, mãe de outro aluno que também frequenta o espaço conta a importância dos filhos se conhecerem e terem orgulho de ser quem são.
“Eu acho maravilhoso, porque eu não tive a mesma sorte, meus pais eram de etnias diferentes e nenhum sabia a língua do outro então eles não se falavam com frequência, as vezes que eu via meu pai conversando com alguém ele logo mandava eu me retirar porque tinha vergonha de falar sua língua. Depois que meus filhos começaram as aulas eles aprendem e me ensinam, então eu carrego o orgulho deles e o meu, porque ser indígena para mim é orgulho, não tenho vergonha de nada”.
Além do estudo das línguas indígenas os alunos também desenvolvem atividades culturais para toda a comunidade, como cinema e espetáculos de dança e peças de teatro.