BA: Fundo agrícola da ONU melhora a vida de indígenas após 8 anos de investimentos
O sonho de estudar Medicina se tornará em breve uma realidade para Adriana Pantaleón dos Santos. Ela vem da comunidade indígena dos Kirirí, na Bahia, onde trabalha em uma fábrica de processamento de mandioca. Com o emprego, a jovem de 19 anos consegue guardar dinheiro para começar os estudos na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
A vida da futura universitária não teria sido a mesma sem o apoio que os Kirirí receberam do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e do governo estadual. Ao longo dos últimos oito anos, parcerias entre as autoridades e a agência da ONU ajudaram os indígenas a adaptar sua produção agrícola ao clima da Bahia, para onde a tribo retornou depois do reconhecimento de seus direitos a terra, há mais de 20 anos.
Com investimentos e programas de capacitação, os indígenas aprenderam e implementaram técnicas que os permitiram ampliar a produção de culturas tradicionais. Também obtiveram mais recursos para conseguir processar e vender as safras.
A vida mudou – e continua se transformando – em Marcação
Adriana cresceu no vilarejo de Marcação, a 296 km de Salvador. A comunidade se espalha pelos municípios de Ribeira do Pombal, Banzae, Quijingue e Tucano. Cerca de 2 mil indígenas fazem parte da tribo, que chegou a ocupar no passado 12 mil hectares de terras.
Na última década, o FIDA financiou os projetos Gente de Valor e o Pró-Semiárido, iniciativas do governo do estado que forneceram equipamentos para a expansão e modernização da produção e processamento de milho e mandioca. Outro componente dos programas era garantir que os indígenas tenham acesso a mercados. Hoje, os Kirirí deixaram de vender apenas para intermediários e têm moinhos e fábricas para a fabricação de farinha, biscoitos e doces de mandioca.
O centro onde Adriana trabalha produz 14 quilos de biscoito por dia e vende, mensalmente, 50 quilos do produto para escolas locais. O restante da produção é encaminhado para mercados regionais. O lucro é repartido entre todos os trabalhadores.
Cada quilograma é vendido a 70 reais. Desse valor, 30% vai para os profissionais. Os outros 70% são reinvestidos na companhia e pagam custos com manutenção e despesas operacionais.
“Antes, todo mundo ficava em casa com suas famílias. Agora que estamos ganhando algum dinheiro, podemos guardar e estudar”, comenta Adriana, otimista.
As estratégias das autoridades da Bahia combinam o uso de saberes tradicionais dos beneficiários com a adoção de tecnologias para a adaptação ao clima do sertão.
Exemplos incluem a construção de represas e cisternas para a coleta de água, a criação de usinas de biogás e a reciclagem da manipueira — um líquido venenoso que é um resíduo da prensa da mandioca e pode ser usado como fertilizante ou pesticida natural após processamento.
Outra inovação foi a implementação de biodigestores — tanques de cimento que servem de depósito para as fezes da pecuária. A decomposição natural dos dejetos libera metano, que é utilizado nos fogões da comunidade para o preparo de alimentos. Misturados a 15 litros de água, cinco quilos de estrume produzem, após duas horas de decomposição, gás suficiente para o consumo diário de uma cozinha.
Mais do que produzir alimentos
Outro pilar dos projetos de desenvolvimento apoiados pelo FIDA é a introdução de meios de geração de renda que não sejam agrícolas. Entre eles, estão o artesanato de bijuterias e cerâmica, bem como a tecelagem que usa, como matérias-primas, o algodão e o imbé — fibra da palmeira Licuri. Os produtos são comercializados em feiras pelo estado e até mesmo em Salvador.
Fonte: ONU