Justiça de SC aceita denúncia contra acusado de matar menino indígena
2ª Vara de Imbituba também aceitou pedido de prisão preventiva dele.
Crime ocorreu em 30 de dezembro de 2015 em frente a uma rodoviária.
O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) informou nesta quarta-feira (3) que apresentou denúncia contra Matheus de Ávila Silveira, de 23 anos, acusado de matar o menino indígena Vítor Pinto, de 2 anos, em frente à rodoviária de Imbituba, no Sul catarinense, no dia 30 de dezembro do ano passado. A Justiça aceitou a denúncia de homicídio duplamente qualificado.
Na denúncia, o promotor Gláucio José Souza Alberton relata que a criança era amamentada pela mãe quando Matheus se aproximou, fez um carinho no rosto e em seguida cortou o pescoço do menino com um estilete. Depois do crime, fugiu.
Além da denúncia, a 2ª Vara de Imbituba também aceitou o pedido da polícia pela prisão preventiva do acusado, com o objetivo de evitar que ele fuja.
Para o promotor, o homicídio foi duplamente qualificado porque foi cometido por motivo torpe e com impossíbilidade de defesa para a vítima. Também há um aumento de pena pelo fato da vítima ter menos de 14 anos e ser um indígena não integrado à sociedade urbana.
Investigação da polícia
O inquérito, de cerca de 200 páginas, compila provas que indicam a autoria do crime, como as roupas sujas de sangue encontradas com o suspeito, as imagens de segurança ao redor da rodoviária, além de depoimentos de testemunhas.
O delegado diz que, caso o jovem seja condenado poderá cumprir pena de 12 a 30 anos. Nesta etapa do processo, não foi solicitada nenhuma avaliação da condição psicológica do jovem, o que poderá ser solicitado pelo judiciário.
Influência de ‘espíritos’
Segundo o delegado, o jovem ainda sustenta que “espíritos disseram que ele deveria matar uma criança”. Matheus chegou a dizer que era um “Exu Tranca Rua”. Entretanto, o delegado diz que nenhuma relação com “convicção religiosa” pode ser efetivamente comprovada.
O jovem segue preso temporariamente na Unidade Prisional Avançada de Imbituba. O delegado informou que, ao entregar o inquérito, também solicitou que a prisão seja convertida de temporária para preventiva.
(Foto: Reprodução/RBSTV)
Provas
Imagens de câmeras de segurança mostraram a movimentação do suspeito pela rodoviária da cidade no Sul catarinense minutos antes do assassinato, e também a reação da mãe, que ainda tentou buscar ajuda com o filho nos braços.
O vídeo mostra o rapaz caminhando pela rodoviária, onde aparece sentado em uma cadeira e passando perto de uma outra criança que brincava no chão. Na sequência, ele aparece atravessando a rua em direção a uma árvore, onde Vitor estava sentado com a mãe, Sônia da Silva.
As imagens mostram que ele se abaixa com calma. Na sequência, ele atinge o menino no pescoço com um canivete e foge. Desesperada, a mãe também sai correndo com o filho. A criança morreu em seguida.
Convicção ‘religiosa’
Em depoimento, o suspeito confirmou ser ele a pessoa que aparece nas imagens cometendo o crime. Sobre a motivação, afirmou que ao matar a criança, acreditava que “alcançaria seus objetivos”. Ele afirmou ainda que “foi por acaso que encontrou um índio e que não cometeu o crime por motivo de raça, credo ou cor”, de acordo com o depoimento.
“Ele fala que não é porque é índio, e sim por ser uma criança, mais indefesa. E o principal, porque isso seria mais impactante para a sociedade”, conta o delegado Raphael Giordani.
Defesa alega ‘insanidade’
O advogado de Matheus afirmou acreditar que seu cliente sofre de insanidade mental. Ele deve pedir que o suspeito seja avaliado por uma junta médica. “A defesa não tem a expertise, não tem a especialidade para dizer se tem uma doença. É a concepção que nós temos mediante as conversas, os depoimentos, tudo que a gente viu até agora no processo”, afirmou o defensor Guilherme Silva Araújo.