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Jefferson Fernandes quer aumentar o número de professores com doutorado e dar apoio a educação indígena na Universidade

O o primeiro reitor indígena do Brasil é da Universidade Federal de Roraima (UFRR). O professor-doutor em agronomia, Jefferson Fernandes do Nascimento, tomou posse do cargo em Brasília no início de março. O Portal Amazônia entrevistou o reitor por telefone para saber sobre a carreira, planos e desafios que serão trabalhados dentro da Universidade Federal de Roraima.

Jefferson Fernandes – Eu nasci no Surumu, que hoje é a terra indígena demarcada Raposa Serra do Sol. Minha mãe é descendente de indígenas de Macuxí e meu pai é oriundo do Piauí. Eu vivi toda a minha infância na Vila de Surumu. Estudei na época em escola de padres. Escola que foi destruída na época da demarcação. E depois vim para Boa Vista, onde eu fiz o segundo grau. Depois eu consegui sair da cidade para fazer minha graduação em Agronomia, no Ceará. Quando eu voltei formado entrei na Universidade Federal de Roraima. Aí começou minha trajetória acadêmica, onde acabei saindo para fazer mestrado e doutorado. Retornei em 2008 do doutorado, e só aí tive a oportunidade de concorrer ao cargo e conseguimos montar uma chapa que convergiu os interesses de mudança e conseguimos nos eleger.

Como vai ser a atuação na universidade?

JF – A Universidade Federal de Roraima teve um crescimento muito rápido nos últimos 12 anos. Hoje a universidade tem um pouco mais de 10 mil alunos e, entendemos que a universidade teve um expansão muito grande  na infraestrutura e no aumento de professores. Agora a gente tem um desafio com relação ao ensino, principalmente na graduação e pós. Temos um corpo docente e queremos avançar no número de doutores porque apenas 39% tem doutorado. Mas a gente tem um ganho social enorme porque quase 90% dos alunos vem de escola pública e de 30 a 40% indígenas. Fruto de um trabalho que realizado nos últimos 15 anos com a criação do Instituto INSIKIRAN.

O que é o Instituto INSIKIRAN?

JF – O instituto INSIKIRAN ajuda na formação de alunos indígenas e, praticamente todos os cursos formais dentro da universidade também tem vaga para indígena. Somos uma população bastante diversificada do ponto de vista não só das etnias, mas da migração de pessoas de outras regiões do Brasil.

E qual é o maior desafio na educação superior?

A assistência estudantil é essencial porque a taxa de sucesso vai aumentar se mantermos esse aluno dentro da instituição. Uma outra questão é a pós-graduação indígena. Porque a pós-graduação formal ela já está começando a aumentar, temos 12 cursos de pós-graduação. Mas, especificamente para a população indígena, precisa avançar o mestrado. Entendemos que a demarcação por sí só já se consolidou e esse público precisa avançar na gestão dessas terras e criar oportunidades dentro dessas áreas. E pensamos que cursos de pós-graduação podem ajudar.

Outra parte que queremos atuar é na parte de internacionalização. A gente tem hoje cerca de 100 alunos estrangeiros e queremos para gerar parceria com outras instituições internacionais até pela nossa localização geográfica, próxima a fronteira com a Guiana e a Venezuela e os países andinos. A gente precisa avançar na internacionalização da Universidade, não só de países africanos, mas também de outros continentes. Há quatro anos vivemos um cenário bastante adverso político, mas não podemos permitir que a universidade deixe de fazer o seu papel como uma instituição que tem a importância social que ela tem, principalmente na Região norte.

A universidade tem orçamento para isso?

JF – Temos um orçamento que foi construído em 2015 que atende as ações que estão sendo desenvolvidas. O nosso problema hoje é a questão do momento econômico do Brasil. O orçamento em si está garantido. O que vamos buscar fora do orçamento é parceiros regionais e internacionais. Temos vários convênios sendo trabalhados para que os parceiros internacionais possam acolher estudantes e a gente possa acolher estudantes deles. E eu posso te dizer o seguinte: a gente só vai atrair esses parceiros se fizermos um trabalho de mostrar a nossa instituição a nível internacional. Mostrar exatamente exatamente qual é o nosso público, qual é a nossa diversidade e qual é o nosso material intelectual que é muito rico. É essa diversidade que traz essa riqueza. A gente entende que assim é que a gente vai atingir o que a gente imagina.

Quais cursos são destinados aos indígenas na Universidade Federal de Roraima?

JF – Na formação específica indígena temos os cursos de Gestão Territorial Indígena, Gestão em Saúde Coletiva, e um curso de formação de professores para ensino em área indígena. Além desses três cursos, que são específicos para os indígenas, temos os cursos formais que vão desde agronomia até medicina, a maioria dos cursos da universidade oferecem vagas específicas para indígenas. Entendemos que é muito mais eficiente formar o indígena para atuar em área indígena do que formar um não indígena e ir para uma área indígena. Temos experimentado e visto em outras regiões do País que não funciona muito bem. Para se ter ideia, temos médicos indígenas atuando em seus territórios formados pela universidade. Já temos pessoas formadas em secretariado executivo, curso formal da universidade, fazer curso fora do País de turismo em áreas indígenas.