Entre as propostas debatidas estão a criação de um edital específico da Secult para manifestações culturais e artísticas indígenas. Fonte: Vermelho

Representantes dos povos indígenas do Ceará passarão a contar com um comitê para reforço da presença de suas tradições e ações na política cultural do Estado do Ceará e para elaboração de um plano setorial de cultura indígena para o Ceará.
Na última sexta-feira (10), na sede da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), foi realizada mais uma reunião entre a equipe da Secretaria e representantes de diversos povos, reunidos em um grupo de trabalho, como os pitaguarys, os jenipapo-kanindé e os tremembés. O grupo foi recebido pela secretária adjunta da Cultura do Estado, Suzete Nunes, e por diversos coordenadores da Secult, debatendo propostas para ampliação das ações para os indígenas na política cultural.
Participaram da reunião representantes de povos indígenas dos municípios de Itarema, Pacatuba e Maracanaú. Entre eles, integrantes do Museu Indígena Tremembé e da Secretaria de Cultura de Itarema. Além dos coordenadores de artes e diversidade cultural, Valéria Cordeiro; patrimônio histórico e artístico, Alênio Carlos; e jurídico, Daliene Fortuna, da Secult.

Como encaminhamento das discussões, que vêm acontecendo desde 2016 na Secult, foi definida a formação de um comitê de política cultural para os povos indígenas, a ser formalizado através de uma portaria publicada pela Secult. O regimento do comitê será elaborado pelo próprio grupo, com propostas trazidas pelos representantes dos povos, na próxima reunião, no dia 17 de março.

Entre as propostas debatidas estão a criação de um edital específico da Secult para manifestações culturais e artísticas indígenas e uma maior participação dos povos nos diversos eixos de atuação da Secretaria: da programação artística e cultural nos equipamentos à política de patrimônio, da salvaguarda de tradições e saberes ao reforço a museus, passando pelas ações de formação em arte e cultura.

“O plano setorial para a cultura indígena é também um instrumento para presença nas diversas áreas de atuação da Secretaria, dialogando com os diferentes setores, com a política cultural como um todo”, destacou a secretária adjunta da Cultura, Suzete Nunes.

Reescrevendo a história

Ronaldo Queiroz, antropólogo e militante das lutas dos povos indígenas, destaca a ação para se construir uma política de estado. “É necessária uma ação em nível de estado pra se construir uma política indigenista em vários campos, cultura, saúde, educação. A Secult está sendo pioneira no sentido de fazer esse tipo de ação, se empenhando em construir uma política indigenista de cultura pros povos indígenas do Ceará”, aponta.

“Esse é um reconhecimento da diversidade cultural do nosso Estado, desses povos originários e também da luta desses povos pela demarcação das suas terras”, acrescenta, frisando que vem de longe a luta dos indígenas pelo devido reconhecimento e respeito.

“A gente está fazendo história, com esse movimento, em um estado que no século XIX negou a presença indígena aqui. Estamos reescrevendo essa história, a partir da relação com o Governo do Estado, via Secult. É uma coisa primordial o que está acontecendo. Todos os povos devem estar festejando e sem empenhando pra ocupar esse espaço”, complementa Ronaldo.

Etnias unidas pela cultura

Francisco Marques do Nascimento, o Cacique Venâncio, mestre da cultura oficialmente reconhecido pelo Governo do Estado do Ceará, destacou o pioneirismo dessa ação coletiva entre povos indígenas e poder público, na área da cultura.

“Isso pra nós é uma coisa que chegou em boa hora e é de suma importância. Pela primeira vez se juntam as etnias do Estado do Ceará pra elaborar um plano de fortalecimento e alternativas pra população indígena na cultura. Pela primeira vez a Secult abre as portas pra articulação dos povos indígenas no Ceará, e isso é muito importante pra cada um de nós”, afirma.

“Isso é um crescimento pros nossos povos, que vão mostrar as habilidades que têm e estão escondidas. Vamos trazer prara pessoas o conhecimento da importância desse trabalho”, ressalta o Cacique Venâncio.
Fonte: Assessoria da Secult