A ação é inédita e está marcada para começar neste mês de julho.

De acordo com a subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres, Luciana Azambuja, o projeto teve início a partir de um pedido da própria comunidade. “Em março, quando estávamos realizando os seminários regionais em alusão ao Dia Internacional da Mulher, na etapa de Dourados, uma indígena nos chamou e perguntou se poderíamos ir à aldeia escutar o que elas tinham a dizer. No mês seguinte fomos até a Jaguapiru e as mulheres indígenas nos pediram auxílio devido ao alto índice de violência e elas não tem conhecimento do que a lei pode fazer por elas. A ideia inicial era levarmos palestras, mas não parou por ai”, contou.

O pedido foi feito pela presidente do Conselho Feminino da Aldeia Jaguapiru, Nilza Meireles. “Não chega muita informação para nós nas aldeias. Então, acredito que há muita necessidade. A violência e o preconceito contra as mulheres indígenas é muito grande. Trabalho há oito anos na aldeia e sei como é difícil para as mulheres correrem atrás. A mulher indígena nunca teve voz, sofrem caladas, mas agora teremos a oportunidade de conhecer nossos direitos e de nos defender”, ressaltou Nilza.

Com o pedido, Luciana entrou em contato com a Delegada da Mulher de Dourados, Paula Ribeiro dos Santos Oruê, e com a cabo da Polícia Militar responsável pelo projeto Mulher Segura, que cuida das medidas protetivas, para fazer parte do projeto. “Recebemos o convite para ir até a aldeia e conhecer a realidade das mulheres. Participamos de reuniões onde elas nos relataram a dificuldade de ir até a cidade, do entendimento da língua e que muitas deixam de fazer os boletins de ocorrência por conta disso. Então, avaliamos que seria possível ir até a aldeia e levar os serviços da delegacia uma vez por mês. Vamos disponibilizar atendimento, orientação, registrar boletim de ocorrência, pedidos de urgência, medidas protetivas, e tudo o que estiver ao nosso alcance”, declarou a delegada.Pelo menos 10% dos casos de violência contra a mulher registrados em Dourados ocorrem nas aldeias. Conforme a cabo da PM, Gleice dos Santos, apesar de haver registros de violência, os números não representam a realidade. “Muitas mulheres não têm como ir até a cidade e até mesmo não conhecem seus direitos. Nosso trabalho, além da prevenção da violência doméstica e familiar, vai focar na sistemárica da polícia comunitária, envolvendo um a um. Tenho certeza que a ação vai despertar o protagonismo e levar conhecimento para essas mulheres”, disse.

Com a equipe do Governo alinhada, Luciana foi em busca de apoio da Prefeitura de Dourados. O município tem o Centro de Atendimento à Mulher e vai levar psicólogos e assistentes sociais, além de outras políticas públicas que acharem necessárias. Para a Coordenadora de Políticas Públicas para as Mulheres de Dourados, Sônia Maria Rodrigues Pimentel, as conquistas virão ao longo dos anos, mas é necessário que a luta das mulheres continue.

“É fundamental trabalharmos com as mulheres a conscientização de seus direitos e as mulheres indígenas, em especial, têm muita carência desse tipo de atendimento. Graças ao ônibus Lilás, cedido pela Subsecretaria Estadual da Mulher, vamos poder levar todo atendimento multidisciplinar uma vez por mês e atuar em conjunto com o trabalho da polícia. Trabalhamos com enfrentamento da violência nas aldeias desde o início do mandato da prefeita Délia Razuk e tenho certeza que nossa comunidade só tem a ganhar com esse projeto”, afirmou Sônia.Com início marcado para o mês de julho, o ônibus Lilás – que será utilizado como unidade móvel do programa – vai disponibilizar serviços de acolhimento, acesso a direitos, assistência psicossocial e jurídica, palestras, campanhas preventivas, informações sobre a Lei Maria da Penha, Lei do Feminicídio e recebimento de denúncias.

“Vamos consolidar a ação em Dourados e expandir. Já temos pedidos de outras comunidades indígenas. O objetivo disso tudo é empoderar, dar conhecimento às mulheres e meninas sobre seus direitos e dizer para homens e meninos que determinadas atitudes violam direitos das mulheres. Unimos nossa equipe, as lideranças e conseguimos autorização do capitão da aldeia. Ouvimos de muitas mulheres que pela primeira vez o Governo do Estado deu voz e ouviu o que elas tinham a dizer. E para o protagonismo delas, os homens também estão se envolvendo no projeto. Isso nos deixa bastante confiantes no trabalho, porque mostra que a sociedade está se mobilizando pelo enfrentamento da violência”, finalizou Luciana.