Missionários fizeram voos de helicóptero para terra indígena com isolados sem autorização
Funai nega ter recebido pedido de autorização para ingresso em aldeias do Vale do Javari, onde há a maior concentração de povos não contatados do mundo
RIO – Comprado pela Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB) para alcançar e evangelizar índios em locais remotos e de difícil acesso, o helicóptero R66, fez pousos e decolagens em aldeias do Vale do Javari, na Amazônia, sem pedir permissão à Fundação Nacional do Índio (Funai), responsável pelas autorizações de ingresso a Terras Indígenas. Além de realizar os voos em plena pandemia de coronavírus, a entidade religiosa ainda desrespeitou ao menos duas regras de operações para aeronaves estabelecidas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).Um grupo de missionários comprou um helicóptero para explorar áreas indígenas de difícil acesso e evangelizar índios que ainda não tiveram contato com a civilização. Órgãos do governo responsáveis pela área dizem que não autorizaram incursão dos religiosos
As transgressões da missão evangélica comprovadas pela imprensa não pararam por aí. Alheia às recomendações feitas pelo Ministério Público Federal (MPF) de se manterem distantes do contato com indígenas para evitar a disseminação do novo coronavírus, a MNTB ingressou por contra própria dentro de uma área onde há a maior concentração de povos isolados do mundo, colocando em risco a saúde desses índios, contrariando a política de não contato sustentada pela Constituição de 1988.
Procurado, o presidente da organização, Edward Luz garantiu que todos os religiosos foram retirados das terras indígenas em fevereiro, porém, a reportagem apurou que o missionário Jevon Rich foi um dos que permaneceu na região, entre as aldeias Paraná e Vida Nova. Não tão distante dali há ao menos três registros em estudo pela Funai de povos que jamais foram contatados, entre eles, o do Igarapé Cravo.
Servidores da Funai e indígenas que conhecem bem a região, mas não quiseram se identificar, falam que a aldeia Vida Nova tem registrado, nos últimos cinco anos, incursões desse grupo indígena de isolados nas imediações de sua comunidade, o que tem preocupado moradores das aldeias ( Marubos já contatados), quanto à transmissão de doenças aos isolados e possíveis conflitos por conta dessa situação