Primeira indígena sendo vacinada no município do Prado na Bahia

Em dois comunicados dos dias 11 e 15 de fevereiro, equipes de saúde do DSEI – Rio Tapajós (Distrito Sanitario Especial Indígena), uma unidade gestora descentralizada do SasiSUS (Subsistema de Atenção à Saúde Indígena) do Ministério da Saúde, no Pará, comunicam a coordenação que há recusas de vacina contra a Covid-19 em aldeias. Na região de 231.906,74 km², há 138 aldeias, com 13.487 indígenas de 10 etnias.

Segundo relatado pela equipe de enfermagem, nos documentos a que a imprensa teve acesso, na Aldeia Daje Kapap todos recusaram a vacina por medo. “Devido a orientações errôneas via rádio, que os mesmos iriam morrer após 15 dias que tomarem a vacina, ou então que iriam virar jacaré e várias outras informações errôneas que os parentes passaram via rádio das outras aldeias do Alto Tapajós.”, dizem.

Eles dizem ainda que tentaram explicar através de Educação em Saúde sobre os benefícios da vacina, mas não houve acordo. “Inclusive o mesmo (cacique) pediu para a equipe parar a palestra. Em seguida, o cacique falou na língua Munduruku e depois em português para nós da equipe que não iria tomar a vacina”.

Em outra carta, informam que foi realizada também uma reunião com lideranças e moradores do Ponto de Apoio Prainha para esclarecer dúvidas e fake news, mas também não tiveram êxito na imunização. “Sendo que: no ponto de apoio Prainha existem 18 aldeias pertencentes a este. Prainha e Nova Tapajós negaram a vacinação, porém precisamos visitar as outras aldeias.”

Povos atingidos

Na última terça-feira (16), a CNN mostrou como a campanha antivacina de líderes religiosos preocupa lideranças indígenas. No final da tarde desta quinta-feira (18), a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, contabilizava 43.061 indígenas infectados pela Covid-19 e 570 mortos em todo o Brasil.

Diante dessa realidade, nas redes sociais é possível encontrar vídeos de lideranças indígenas, como Marcos Apurinã, incentivando a vacinação. “Meus parentes, a vacinação é a forma mais segura e eficaz de prevenir doenças e salvar vidas, neste momento de pandemia ela é a nossa única esperança de vencer esse caos causado pela Covid-19.

Quando somos vacinados, não estamos apenas protegendo a nós mesmos, mas também aqueles que estão ao nosso redor. Se você tiver a oportunidade, não pense duas vezes. Tome a Vacina! Exerça seu direito e Salve Vidas!”, diz.

Em nota, o Ministério da Saúde, por meio da Sesai, informa que, as Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) dos 34 DSEI têm trabalhado constantemente na conscientização sobre a imunização contra a Covid-19.

“Os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) receberam treinamentos e foram orientados a desenvolverem estratégias de educação em saúde adequadas ao contexto cultural de cada etnia, incluindo a elaboração de materiais e conteúdos audiovisuais na língua nativa para incentivo à participação na campanha de vacinação”, diz.

A pasta ainda esclarece que a vacinação contra o novo coronavírus não é obrigatória. “Em caso de recusa de vacinação por parte dos indígenas, é realizado registro no prontuário médico, mantendo-se as ações de incentivo à participação na campanha de vacinação, destacando-se a importância da imunidade coletiva para proteção da comunidade como um todo.

As doses são armazenadas na Rede de Frio – organizada pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), mantendo-se à disposição dos indígenas em outras visitas das EMSI às aldeias”.

Procurada, a Funai (Fundação Nacional do Índio) ainda não respondeu aos questionamentos enviados pela reportagem.