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Pesquisa revelou alta concentração de mercúrio em índios Yanomami e Ye’kuana (Foto: Divulgação/Marcos Wesley de Oliveira/ISA)

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre contaminação por mercúrio em índios da Terra Indígena Yanomami, no Norte de Roraima, revela que povos das etnias Yanomami e Ye’kuana têm sido extremamente atingidos, principalmente mulheres e crianças. O nível alto de mercúrio nas pessoas estudadas chega a 92,3%, conforme a pesquisa. Os dados foram apresentados nesta quinta-feira (3) nas comunidades.

A pesquisa usou amostras de cabelos de índios que vivem nas comunidades Papiú, Waikás e Aracaçá, regiões onde há grande exploração de garimpo ilegal de ouro. Os resultados serão apresentados aos órgãos fiscalizadores, ambientais e aos responsáveis pela saúde indígena.

 

Estudo usou amostras de cabelo de indígenas e de peixes das regiões afetadas pelo garimpo ilegal(Foto: Divulgação/Marcos Wesley de Oliveira/ISA)

Estudo usou amostras de cabelo de indígenas e de escamas de peixes das regiões afetadas pelo garimpo ilegal (Foto: Divulgação/Marcos Wesley de Oliveira/ISA)

Das amostras colhidas, o estudo constata que os índios Yanomami que vivem em Aracaçá são os que têm índices mais preocupantes.

Foram estudadas 13 pessoas, dessas, 92,3% estão contaminadas com nível alto de mercúrio. O número aceitável, conforme a pesquisadora Cláudia Vega, é de 6 microgramas de mercúrio por grama de cabelo.

Na comunidade Waikás, onde a população é formada por Ye’kuana, foram colhidas 47 amostras. Os resultados revelam 27% de contaminação entre o número de pessoas estudadas. A região de Papiú foi a que teve o menor índice: de 179 indígenas pesquisados, apenas 6% estavam contaminadas com o mercúrio.

“Estamos associando essa diferença de exposição pela proximidade e interações com as regiões de garimpo. Eles ingerem o mercúrio, na maioria dos casos, comendo o peixe contaminado e a substância passa para o corpo. A contaminação afeta todo o sistema nervoso, principalmente o central”, explica Cláudia.

Ainda de acordo com a pesquisadora da Fiocruz, a contaminação de mercúrio no corpo pode causar problemas neurológicos, neuromotores e sistêmicos. Entretanto, a pesquisa analisou somente os índices de contaminação.

O mercúrio é o único metal líquido em temperatura ambiente que se une facilmente ao ouro, formando uma liga metálica. Esse material, então, é aquecido, o mercúrio se evapora e o ouro se funde sozinho. O excesso de mercúrio restante desse processo é lançado diretamente nos rios e entra na cadeia alimentar, por meio da ingestão de água e peixes.

O líder indígena Reinaldo Rocha Ye’kuana se diz preocupado com a situação. “Ficamos preocupados com o resultado da pesquisa. A contaminação atinge plantas, animais e pode também afetar nossa futura geração”, relatou. Ainda de acordo com ele, haverá um trabalho de conscientização na comunidade.

Manuseio mercúrio (Foto: Divulgação/ISA)Pesquisa estudou a contaminação em indígenas
de três comunidades (Foto: Divulgação/ISA)

Pesquisa
A pesquisa sobre a contaminação por mercúrio na Terra Indígena Yanomami teve início em novembro de 2014, após conversas entres os líderes indígenas e o coordenador do Instituto Sócio Ambiental (ISA), Marcos Wesley de Oliveira, sobre a presença de garimpeiros nas comunidades.

“A presença de garimpeiros que usam o mercúrio próximo às comunidades gerou preocupação com a saúde dos indígenas. Com isso, entramos nas regiões e fizemos as coletas de mechas de cabelo e de peixes, para que fossem feitas as análises. Agora, os resultados foram apresentados aos indígenas e serão enviados aos órgãos competentes”, explica Oliveira.

Além dos resultados apresentados nas comunidades, os pesquisadores também devolveram as amostras de cabelos usadas na pesquisa. O trabalho realizado nas comunidades teve ainda o apoio da Hutukara Associação Yanomami e Associação do Povo Yanomami no Brasil (Apyb).