tocha contrao preconceito

A tocha olímpica chega ao Amazonas na manhã deste domingo, e cerca de 200 condutores foram escalados para o revezamento, que passa por Manaus (19), Iranduba e Presidente Figueiredo (20) nos próximos dias. Para a missão de carregar a chama, atletas, ex-atletas e grandes personagens locais foram escolhidos. Um deles é Gustavo Santos, jovem de origem indígena que se tornou um dos grandes talentos do tiro com arco na região Norte. Nascido e criado no Amazonas, ele é da tribo Karanpãna e foi batizado com o nome indígena YwYtu, que significa vento. Com 19 anos, o amazonense se dedica há dois anos exclusivamente ao tiro com arco. Hoje, consagrado na modalidade, faz história – ao lado de outros atletas locais – ao manter o nome do estado entre os melhores do cenário nacional. Com o histórico recente de conquistas, foi convidado para conduzir a tocha durante a passagem pelo Teatro Amazonas – uma das paradas mais importantes no circuito pela capital amazonense.– Estávamos treinando para uma competição e recebi uma ligação. Disseram que eu seria um dos condutores da tocha. De primeira fiquei nervoso, liguei para os meus pais, para os meus familiares e contei. Todo mundo ficou bastante alegre. Para nós é uma conquista muito grande. Nem todos temos essa oportunidade – contou.

O convite veio em boa hora. Vento, em tom de lamento, destaca o preconceito que o grupo de arqueiros do Amazonas – formado em sua maioria por indígenas – sofre. – Essa conquista é uma forma de mostrar que nós, indígenas, também podemos chegar lá. Que podemos alcançar os nossos sonhos. Ainda existe muito preconceito, mas todos nós somos iguais. Não importa cor ou raça. Basta lutarmos por aquilo que a gente acredita. Quando eu carregar aquela tocha, na frente daquele teatro, não serei eu, o Gustavo, mas sim todos os meus irmãos indígenas.  O sonho de carregar a tocha olímpica o arqueiro realiza neste domingo. Outro, muito maior, ainda está em construção: participar de uma Olimpíada. Para a edição deste ano, no Rio de Janeiro, Vento não conseguiu a tão sonhada vaga. Mas nada que o abale. A meta é 2020. – Infelizmente não conseguimos (delegação amazonense) vaga para este ano. E é até justificável. Só temos dois anos de treinamento, pouco tempo para conseguir algo assim. Mas segurar a tocha olímpica, sem dúvida, vai me impulsionar na luta por essa vaga (nos Jogos de Tóquio 2020). É um grande incentivo, e isso é fundamental – explicou.

Gustavo dos Santos arqueiro indígena tocha (Foto: Bruno Kelly/Divulgação)

Arqueiro Gustavo Santos, da Karanpãna, será um dos condutores da tocha no Amazonas (Foto: Bruno Kelly/Divulgação)

No domingo, aos pés do Teatro Amazonas, Gustavo ergue a tocha com direito a torcida organizada. Toda a sua família vai deixar a Comunidade Nova Canaã – localizada a 80km de Manaus, somente para acompanhar o jovem. – Desde que comecei a me dedicar exclusivamente ao tiro com arco, tive que sair de casa e morar na Vila Olímpica (em Manaus). Eles devem vir no domingo, e eu com certeza ficarei mais calmo e feliz em vê-los – concluiu o indígena. Tocha olímpica no Amazonas O revezamento da tocha olímpica passará por três municípios do Amazonas, domingo e segunda. Na capital do Amazonas, percorrerá 39km, passando pelos principais pontos turísticos, como Arena da Amazônia, Teatro Amazonas, Ponte Rio Negro e praia da Ponta Negra. No segundo dia, percorrerá tribos indígenas e nadará com botos em Iranduba; e em Presidente Figueiredo, passará pelas cachoeiras da cidade.