Índios lamentam tragédia em MG: ‘O rio Doce sabia que ia ser morto’
Para os indígenas do povo krenak, o rio Doce era muito mais que fonte de água. Com a chegada da onda de lama de rejeitos da mineradora Samarco ao município de Resplendor, em Minas Gerais, na semana passada, as 126 famílias que vivem na aldeia, às margens do manancial, testemunharam a “morte” de um elemento fundamental da cultura das tribos.
“Muitos aí fora acham que o rio é só água e peixe, mas para nós era a fonte de sobrevivência e uma questão de cultura. Desde o início dos nossos antepassados, o rio Doce mantém nosso povo. É questão de religião, é sagrado. Mas agora ele está morto.” O desalento no relato do cacique Leomir Cecílio de Souza, 30, da tribo atorã, permeia os depoimentos de todos os integrantes do povo indígena ouvidos pela reportagem. “O rio era tudo para a gente. O que a Vale e a Samarco fizeram destruiu o povo krenak”, declara Potiara Félix, 32.
Indígenas voltam a protestar em Brasília contra Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215
Um grupo de cerca de 200 indígenas Kayapó, do Pará, e de diversos povos do Parque Indígena do Xingu (MT) protestou ontem (17/11) na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes, em Brasília, contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, que dá ao Congresso a última palavra sobre os limites de Terras Indígenas, Unidades de Conservação e quilombos. Se aprovado pelo Congresso, o projeto irá paralisar de vez a oficialização dessas áreas protegidas.
A PEC foi aprovada numa Comissão Especial da Câmara, no final de outubro, e pode ser votada no plenário a qualquer momento. Dentro do Congresso, uma comitiva de 30 líderes indígenas foi recebida por parlamentares e realizou um pequeno ato no Salão Verde da Câmara, em frente ao plenário, onde circulam parlamentares e jornalistas.
Índios entram em acordo com a Vale e desocupam trecho da EFVM
Acordo aconteceu após reunião na tarde desta segunda, em Resplendor. Acerto prevê, entre outras coisas, medidas para revitalização do Rio Doce.
Representantes dos índios da tribo Krenak estiveram reunidos na tarde desta segunda-feira (16) com representantes da Vale. No encontro, os índios entraram em acordo com a empresa Vale para desocupar um trecho da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) em Resplendor, no Vale do Rio Doce. Eles interditaram a EFVM na tarde de sexta-feira (13) e solicitaram, entre outras coisas, a recuperação do Rio Doce que foi atingido pelos rejeitos da barragem de Fundão, em Mariana (MG) que se rompeu no dia 5 deste mês. Anteriormente, acreditava-se que as barragens Fundão e Santarém haviam se rompido, porém, foi constatado depois que apenas uma se rompeu.